terça-feira, 9 de outubro de 2007

Navegando para a América

Em 9 de outubro é comemorado nos Estados Unidos o dia de Leifr Eiríksson. Trata-se do primeiro não-americano aceito pelo consenso historiográfico a chegar à América. Como aponta seu sobrenome, Eiríksson era filho de outro importante explorador, Eiríkr rauði (Eric, o vermelho, ou Eric, o ruivo), o viking norueguês que descobriu e colonizou a Groelândia.

A história começa com Bjarni Herjólfsson, outro navegador norueguês, que se perdera em uma tempestade enquanto navegava entre a Islândia e a Groelândia e avistara uma terra desconhecida a oeste no verão de 985-986. Interessado pela descoberta, Leifr partiu com mais 15 companheiros por volta do ano 1000. Inicialmente, eles navegaram para o norte e encontraram uma terra rochosa, que não correspondia às descrições de Bjarni. Chamaram-a de Helluland (terra das pedras chatas), provavelmente a moderna Ilha de Baffin. Rumando para o sul, os navegadores chegaram a uma região coberta por florestas, com praias de areia branca e a batizaram Markland, terra das florestas, provavelmente na costa do atual Labrador. Voltaram ao mar e, avistando uma terra hospitaleira, desembarcaram e construíram casas, denominando a região de Vinland. A localização desta última etapa é contestada, com historiadores argumentando que Vinland se localizaria desde a atual Nova Inglaterra, no sul, até a Terra Nova, no Canadá. Nem sequer o nome da região é consenso entre os especialistas, pois Vinland, com 'i' curto, significa 'terra das uvas', enquanto Vínland, com 'i' longo, significa 'terra das pastagens'.

De qualquer modo, a viagem do viking Leifr Eiríksson é apenas um dos diversos episódios de viagens pré-colombianas à América. Há bons argumentos (todos bem contestados pelos adversários) que marcariam presenças de outros povos na América antes da chegada da expedição espanhola liderada pelo navegador genovês. Bustos medievais e moedas romanas nos EUA, ânforas do século III no Rio de Janeiro, semelhanças lingüísticas entre o asteca e o grego, a presença de amendoim e milho na China durante o século XIV e relatos de ilhas no Oceano Atlântico por navegadores moçárabes do século IX foram utilizados como evidência dessa argumentação. Em 2002, Gavin Menzies, capitão da marinha britânica, publicou um livro defendendo a hipótese de que navegadores chineses teriam chegado à América em 1421. Um mapa de 1763 (abaixo), baseado em um hipótetico mapa de 1418, seria a prova definitiva do conhecimento que os grandes navegadores chineses, como Zheng He, teriam da Austrália e da América.

Qual a verdade, então? Quem foi o primeiro 'descobridor' da América? Em minha opinião, trata-se de uma discussão desnecessária. Não importa se egípcios, gregos, romanos, vikings, árabes, chineses ou marcianos chegaram à América antes de Colombo. Porque apenas a expedição espanhola colonizou e transformou significativamente a região. As atuais sociedades das três Américas são fruto da colonização, da exploração e do genocídio praticado pelos exploradores espanhóis, portugueses, franceses, ingleses e holandeses. E essas são conseqüências da viagem de Colombo, não de obscuras travessias oceânicas realizadas há mais de cinco séculos.

Não à toa, o dia 9 de outubro, data comemorativa da viagem do noruguês Eíriksson, não é feriado nos EUA. O dia 12 de outubro, data da chegada de Cristóvão Colombo ao Caribe, é Columbus day, feriado nos EUA, Día de la Raza, feriado na Argentina, na Venezuela, no Chile, no México e na Espanha, Discovery Day, feriado nas ilhas Bahamas, Día de las Culturas, feriado na Costa Rica (em 2002, refletindo suas novas políticas pró-indigenistas e anti-imperialistas, o governo venezuelano mudou a denominação do feriado para Día de la Resistencia Indígena).